quinta-feira, 25 de abril de 2013

SOBRE FELICIDADE E SOFRIMENTO Buddha dizia que sofremos porque temos desejos. Algumas pessoas – geralmente em função de conceitos religiosos - podem pensar que há algo errado em desejar, já que desejar é natural no ser humano. Claro que não há nada errado em desejar. O desejo é quem move nosso movimento evolutivo. Mas se ancoramos excessivamente nossos desejos em coisas externas (pessoas, objetos, eventos, sensações), certamente vamos entrar na “roda viva” do sofrimento, porque a mente e os sentidos nunca se saciam do prazer fugaz trazido pelas coisas externas. E quando as temos, sofremos pelo medo de perde-las. E sofremos quando as perdemos, até porque “prá sempre” é uma invenção da nossa cultura. O sofrimento é a distância entre o que você deseja e o que é. E resistir ao que é só mantém e aumenta o sofrimento. Talvez a coisa mais difícil de se ensinar a uma pessoa que está estudando para ser terapeuta é a diferença entre a intenção de curar e o desejo de curar. Intenção de curar é estar no foco, fazendo o que é possível fazer, com desapego pelos resultados. Desejo de curar é quando queremos manipular o processo, passando por cima do fato de que é o Universo quem controla. E esta atitude certamente é uma porta para as frustrações e para o ceticismo. Não há nada errado com o prazer, com gozar das coisas bonitas, agradáveis, gostosas, ainda que passageiras. Só não podemos confundir prazer com Felicidade (com letra maiúscula). Felicidade (ou bem-aventurança – Ananda – como dizem os hindus), é o estado de estar integrado com o Amor Universal. Em um nível bem mais humano existe ainda um fator complicador, pois inventaram que a tal felicidade é um estado sem sofrimento. Mas relembrando Drummond “a dor é inevitável, o sofrimento é opcional”. Isso embola com outro fator também complicador que é uma crença de algumas religiões de que sofrer é uma coisa boa aos olhos de Deus e que o sofrimento é fundamental e essencial para a evolução humana. Estes equívocos todos fazem com que se entre em verdadeiros estados compulsivos, onde desesperadamente se busca a completude em coisas ou pessoas que nunca vão poder dá-la, já que o que é impermanente não pode outorgar nenhum estado interno que seja permanente, absoluto. É como tentar se preencher com vento. Isso tudo é fomentado em nosso psiquismo por aquilo que Freud chamou das pulsões básicas da busca do prazer e da evitação da dor. E o sistema capitalista se aproveita disso e capricha em criar de forma absolutamente maquiavélica e eficiente - através da mídia e da propaganda - desejos e necessidades “artificiais” que jamais serão realmente saciadas, produzindo uma escalada de vício e dependência. Hoje temos instituições do tipo AA (Alcoólicos Anônimos) para quase todas as áreas da vida : Sexólatras anônimos, Comedores compulsivos, malhadores de academia compulsivos, workaholics, usuários de informática e de vídeo game compulsivos, etc. Viva a vida buscando o belo, o gostoso, o agradável e o prazeiroso mas lembre-se de que a maior virtude é a do desapego. Como na verdade nós não temos controle sobre quase nada, o desapego (que não tem nada a ver com indiferença, complacência ou omissão) faz com que a felicidade humana seja viável, na medida em que nos responsabilizamos pelo que nos acontece e aprendemos com aquilo que atraímos, e assim voltamos cada vez mais rapidamente para um estado de serenidade e equilíbrio cada vez que a vida nos traz experiências difíceis e dolorosas. Aceitar o que vem do Universo com consciência e maturidade, pois como dizia Buddha, a existência é sempre anitya, impermanente, tudo passa, tudo passa... //Ernani Fornari

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